Introdução
O Brasil ainda usa a CID-10 porque a transição para a CID-11 está em andamento e tem implementação prevista para janeiro de 2027. A implementação completa exige a atualização de sistemas de informação, capacitação de profissionais e a publicação de diretrizes, o que leva tempo. Enquanto a CID-11 não estiver totalmente implantada, a CID-10 continua sendo o padrão utilizado para a codificação de doenças e diagnósticos no país.
Razões para a transição ser gradualComplexidade da implementação: A transição de uma versão para outra da CID envolve a atualização de diversos sistemas de informação de saúde, como prontuários eletrônicos, e a padronização de procedimentos em todo o país.
Necessidade de capacitação: Todos os profissionais de saúde precisam ser capacitados para entender e utilizar os novos códigos e estrutura da CID-11, o que exige um tempo de treinamento.
Diferenças na classificação: A CID-11 trouxe mudanças significativas, como a unificação do autismo em uma única categoria (Transtorno do Espectro Autista – TEA), com códigos mais específicos para diferenciar o grau de deficiência intelectual e o prejuízo na linguagem. Essas mudanças precisam ser incorporadas aos protocolos e sistemas de saúde.
A CID-10 é fundamental para a codificação de diagnósticos, o que é essencial para a solicitação de exames, o registro em prontuários, o intercâmbio de informações entre serviços de saúde e para a realização de pesquisas e planejamento de políticas públicas.
Prazos de implementação: A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu que os países membros deveriam começar a usar a CID-11 para relatórios de mortalidade e morbidade em 2022, mas a implementação completa no Brasil está programada para 2027, como detalhado na Nota Técnica 91/2024.
Isso serve não só para atualização do diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista, TDAH como outras classificações diagnósticas.
O Brasil não torna o DSM-5-TR obrigatório porque a principal norma de diagnóstico utilizada mundialmente, e também no Brasil, é a Classificação Internacional de Doenças (CID). Embora o DSM-5-TR seja usado por muitos profissionais de saúde mental no país como ferramenta complementar, ele não é o padrão nacional para codificação de diagnósticos, que é o papel da CID.
O sistema de saúde público brasileiro (SUS) e a maioria dos convênios médicos utilizam a CID para fins de codificação e registro, pois é um sistema universalmente aceito pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Uso complementar: O DSM-5-TR é amplamente utilizado por psiquiatras e outros profissionais de saúde mental no Brasil como um complemento à CID, devido à sua detalhada descrição dos transtornos. No entanto, a CID é o padrão obrigatório para fins legais e administrativos.
Diferenças e críticas: A decisão de não tornar o DSM obrigatório também se deve a críticas e controvérsias em relação ao DSM, como a criação de novos diagnósticos (como o luto prolongado) e a possibilidade de aumentar a medicalização de comportamentos que antes não eram considerados doenças. O DSM-5-TR, como o DSM-5 antes dele, tem sido criticado por algumas de suas decisões editoriais e por não ter sido tão rigoroso com a questão dos falsos positivos.
Ênfase na CID: A 11ª versão da CID (CID-11) foi lançada e está sendo gradualmente implementada globalmente, e também é o sistema preferencial para uso no Brasil.
Portanto, embora muitos profissionais brasileiros usem o DSM-5-TR para auxiliar em suas aliações clínicas, ele não é obrigatório para o sistema de saúde brasileiro.
Sobre o artigo: O que mudou nos critérios diagnósticos de TDAH na CID 11 e DSM-5 TR?
Rapson Gomez 1 , Wai Chen 2 , Stephen Houghton 3
PMID: PMC10251354 PMID: 37303925
Conforme a Nota Técnica 91/2024, o início da utilização da CID-11 no Brasil está previsto para janeiro de 2027, em razão das etapas de atualização dos sistemas de informação e a capacitação dos usuários e publicização.
Já é possível se capacitar sobre as inovações da CID-11, por meio do curso on-line “Manual de Capacitação da CID-11”, desenvolvido pelo departamento de Evidencia e Inteligência para Ação na Saúde da OPAS.
As descrições atuais do CID-11 para transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) foram publicadas recentemente on-line, no mesmo ano em que o DSM-5-TR (edição revisada em texto) foi lançado.
A CID-11 é a décima primeira revisão da Classificação Internacional de Doenças. Substitui a CID-10 como padrão global para registrar informações de saúde e causas de morte. Trata-se de um instrumento de autorrelato desenvolvido para a aliação dos traços patológicos da personalidade conforme o modelo dimensional.
O Diagnóstico Dimensional em Transtornos Mentais é uma abordagem clínica cientificamente comprovada e pode ser aplicado para qualquer tipo de paciente (crianças, jovens e adultos) bem como para diagnóstico de qualquer tipo de transtorno mental. A CID-11 fornece uma linguagem comum que permite aos profissionais de saúde compartilharem informações padronizadas em todo o mundo. É a base para identificar tendências e estatísticas de saúde em todo o mundo, contendo cerca de 17 mil códigos únicos para lesões, doenças e causas de morte, sustentados por mais de 120 mil termos codificáveis. Usando combinações de códigos, mais de 1,6 milhão de situações clínicas podem agora ser codificadas.
Comparada com as versões anteriores, a CID-11 é totalmente digital, tem um novo formato e recursos multilíngues que reduzem a chance de erro. A Classificação foi compilada e atualizada com informações de mais de 90 países e envolvimento sem precedentes de prestadores de serviços de saúde, permitindo a evolução de um sistema imposto aos médicos para um banco de dados de classificação clínica e terminologia verdadeiramente capacitador, que atende a uma ampla gama de usos para registrar e relatar estatísticas na saúde.
A CID-11 é a décima primeira revisão da Classificação Internacional de Doenças. Substitui a CID-10 como padrão global para registrar informações de saúde e causas de morte. A CID é desenvolvida e atualizada anualmente pela Organização Mundial da Saúde – OMS. Além das atualizações de codificação e capacidade, a CID-11 inclui novos capítulos sobre medicina tradicional, saúde sexual e distúrbios relacionados a jogos – que agora foram adicionados à seção sobre transtornos aditivos.
A CID-11 foi adotada na Assembleia Mundial da Saúde em maio de 2019. Os Estados Membros se comprometeram a começar a usá-la para relatórios de mortalidade e morbidade em 2022. Desde 2019, os países que adotaram os primeiros passos, tradutores e grupos científicos recomendaram refinamentos adicionais para produzir a versão que é hoje está disponível.
A OMS continua empenhada em apoiar todos os países à medida que ançam para a implementação e ampliação da CID-11.
O DSM-5-TR é a quinta edição revisada do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, revisão de texto foi publicado em 2022. Envolveu mais de 200 especialistas, a maioria dos quais esta envolvida no desenvolvimento do DSM-5. Além disso, quatro grupos de revisão transversais (Cultura, Sexo e Gênero, Suicídio e Forense) revisaram todos os capítulos, com foco em material envolvendo sua expertise específica. Um Grupo de Trabalho sobre Equidade e Inclusão Etnorracial garante que a atenção apropriada a fatores de risco como racismo e discriminação e o uso de linguagem não estigmatizante.
O DSM-5-TR inclui um novo diagnóstico, transtorno de luto prolongado e novos códigos de sintomas que permitem que os clínicos indiquem a presença ou histórico de comportamento suicida e automutilação não suicida. Alguns esclarecimentos necessários para certos critérios diagnósticos foram revisados e aprovados pelo Comitê Diretor do DSM, bem como pela Assembleia e Conselho de Curadores da Associação de Psiquiatria Americana – APA.
O DSM-5-TR consiste em três componentes principais: a classificação diagnóstica, os conjuntos de critérios diagnósticos e o texto descritivo. A terceira área do DSM-5-TR é o texto descritivo que acompanha cada transtorno. O texto fornece informações sobre cada transtorno sob os seguintes títulos:
Procedimentos de gração Especificadores Características de diagnóstico Recursos associados Prevalência Desenvolvimento e Curso Fatores de risco e prognóstico Problemas de diagnóstico relacionados à cultura Questões de diagnóstico relacionadas ao sexo e ao gênero Associação com pensamentos ou comportamento suicida Consequências Funcionais Diagnóstico diferencial ComorbidadeNesta pesquisa, comparamos e contrastamos os critérios diagnósticos do DSM-5/DSM-5-TR e do CID-11, para Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH, resumimos diferenças importantes e destacamos suas implicações clínicas e de pesquisa.
No geral, surgem três diferenças principais:
(1) O número de critérios diagnósticos para sintomas de desatenção (IA), hiperatividade (HY) e impulsividade (IM) (ou seja, o DSM-5-TR tem nove sintomas IA e nove HY/IM, enquanto o CID-11 tem 11 sintomas IA e 11 HY/IM);
(2) a clareza e padronização dos limiares diagnósticos (ou seja, os limiares diagnósticos para contagem de sintomas nos domínios IA e HY/IM são explicitamente especificados no DSM-5-TR, enquanto no CID-11 não são);
(3) a partição dos sintomas HY e IM em subdimensões (ou seja , a diferença na partição dos domínios dos sintomas HY e IM está relacionada às diferenças entre as edições atuais e anteriores do DSM e do CID, e isso tem implicações importantes para a pesquisa).
Atualmente, não existem escalas de classificação de TDAH baseadas no CID-11 e, embora essa ausência represente um obstáculo para a respectiva pesquisa e prática clínica, ela também apresenta oportunidades para o desenvolvimento de pesquisa. Este artigo destaca esses desafios, possíveis soluções e novas oportunidades de pesquisa.
Três diferenças principais entre o DSM-5-TR e o CID-11 são:
(1) O número de critérios diagnósticos para sintomas de desatenção, hiperatividade (HY) e impulsividade (IM);
(2) a clareza e padronização dos limiares diagnósticos;
(3) a partição dos sintomas de HY e IM em subdimensões entre edições anteriores e atuais do DSM e do CID.
Atualmente, não existem escalas de classificação de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) baseadas no CID-11. A ausência de evidências de pesquisa para informar e reconciliar essas diferenças representa oportunidades para pesquisa.
Descobertas de pesquisas emergentes sugerem que a “impulsividade” é provelmente o principal fator latente subjacente a diferentes expressões de sintomas de TDAH; e os critérios atuais que fundem HY/IM podem limitar tais explorações.
INTRODUÇÃO
As descrições do CID-11 para transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) foram publicadas recentemente on-line[ 1 ]. Além disso, o DSM-5-TR[ 2 ] foi publicado impresso junto com uma versão digital edição mais estendida. Embora haja maior alinhamento entre o CID-11 e o DSM-5-TR, ainda assim há diferenças (embora sutis em algumas partes), que envolvem implicações importantes para a pesquisa e aplicação clínica.
Este artigo de comentário articula criticamente essas diferenças (particularmente sintomas diagnósticos e limiar de sintomas para diagnóstico). Como nenhuma revisão foi feita nos critérios diagnósticos de TDAH no DSM-5-TR, o restante deste comentário se refere ao DSM-5-TR em vez de ‘DSM-5’ ou ‘DSM-5 e DSM-5-TR’, a menos que especificado de outra forma. Uma variante mais gre do TDAH é chamada de transtorno hipercinético (HKD) no CID-10[ 3 ].
As composições de sintomas para HKD no CID-10 são comparáveis com a ‘apresentação combinada’ de TDAH no DSM-5-TR, mas não com as apresentações ‘predominantemente desatenta’ ou ‘predominantemente hiperativa-impulsiva’. A revisão do CID-11 para TDAH agora está mais alinhada com o DSM-5-TR, ao incluir apresentações/tipos menos gres além do HKD.
Com referência às comparações do DSM e do CID, primeiro resumimos as principais diferenças entre os critérios diagnósticos do DSM-5/DSM-5-TR e do CID-11. As implicações dessas diferenças para a prática clínica e a pesquisa são então discutidas. Para colocar nossa discussão em contexto, apresentamos primeiro um resumo do DSM-5-TR e do CID-11 e os comparamos.
Ao empreender este comentário, buscamos facilitar uma compreensão e apreciação mais profundas desses sistemas de classificação diferentes, mas relacionados, e como eles contribuem para uma melhor pesquisa e prática clínica.
RESUMO DO DSM-5-TR E CID-11
A Tabela 1 fornece um resumo dos critérios diagnósticos do DSM-5-TR e do CID-11 para TDAH em relação às suas descrições, início, padrões de apresentação e critérios de sintomas, com relação a cenários, duração e comprometimento.
Como pode ser visto na Tabela 1 , embora haja muito alinhamento entre o CID-11 e o DSM-5-TR, existem diferenças importantes, especialmente em termos de composição de sintomas e critérios. Vamos nos concentrar neles na próxima seção.
PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE DSM-5-TR E CID-11
Há pelo menos quatro diferenças principais entre o DSM-5-TR e o CID-11 e suas edições anteriores que merecem ser consideradas.
DIFERENÇA NA DIVISÃO DE UM CRITÉRIO DE SINTOMA DESATENTO
Primeiro, em contraste com o DSM-5-TR que lista nove sintomas de desatenção (IA), o CID-11 tem 11 sintomas de desatenção (IA). O sintoma específico de IA do DSM-5-TR para “Frequentemente falha em dar atenção especial aos detalhes ou comete erros descuidados em trabalhos escolares, no trabalho ou com outras atividades” é dividido em dois sintomas de IA separados no CID-11: “Falta de atenção aos detalhes” e “Cometer erros descuidados em tarefas escolares ou de trabalho”. Isso dá origem ao primeiro sintoma extra.
SINTOMAS ADICIONAIS DE DESATENÇÃO (IA) E HIPERATIVIDADE (IM) NA CID-11
Além disso, o sintoma específico do DSM-5-TR IA “É frequentemente esquecido nas atividades diárias” também é dividido em dois sintomas IA semelhantes separados no CID-11: “É esquecido nas atividades diárias” e “Tem dificuldade em lembrar de concluir as próximas tarefas ou atividades diárias”. Isso dá origem ao segundo sintoma extra.
Um novo sintoma IA para o CID-11, não presente no DSM-5-TR, é “Parece frequentemente estar sonhando acordado ou ter a mente em outro lugar”. Este é o terceiro sintoma extra. No entanto, este sintoma pode ser considerado mais alinhado com o sintoma “ritmo cognitivo lento (TCL)” quando considerado à luz da literatura do TCC [ 4 ]. Além disso, o sintoma específico do DSM-5-TR IA “Tem frequentemente dificuldade em manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas” não está presente no CID-11.
Com referência aos sintomas de hiperatividade (HY)/impulsividade (IM), a CID-11 lista 10. Dois deles estão relacionados ao comportamento hiperativo: “Tem dificuldade em ficar sentado sem se mexer” e “Sentimentos de inquietação física, uma sensação de desconforto ao ficar quieto ou sentado parado”. A CID-11 especifica que o primeiro seja aplicado a crianças mais novas, e o último seja aplicado a adolescentes e adultos (ou seja, com 17 anos ou mais).
Estes podem ser considerados variantes de desenvolvimento do mesmo sintoma. Por esta razão, existem na realidade 10 sintomas de HY/IM na CID-11. O sintoma de “está frequentemente ‘em movimento’, agindo como se ‘movido por um motor…’ experimentado por outros como sendo inquieto…” no DSM-5-TR está ausente na CID-11; no entanto, isso poderia ser potencialmente comparável a ‘sentimentos de inquietação física’ na CID-11.
Um novo sintoma HY/IM no CID-11, que está ausente no DSM-5-TR, é “Uma tendência a agir em resposta a estímulos imediatos sem deliberação ou consideração de riscos e consequências (por exemplo, envolver-se em comportamentos com potencial para lesão física; decisões impulsivas; direção imprudente)”. Este sintoma captura a descrição clássica do traço disposicional IM.
Em contraste, no DSM-5-TR, o IM é representado unicamente por três sintomas comportamentais diretamente observáveis (por exemplo, ‘deixar escapar’, ‘não pode esperar’ e ‘interromper’), como uma ausência de deliberação ou consideração de risco que não pode ser diretamente observada, mas frequentemente apenas inferida ou divulgada pelo ator mediante reflexão retrospectiva.
Em resumo, o DSM-5-TR tem 9 sintomas de desatenção (IA) e 9 sintomas de hiperatividade e impulsividade (HY/IM), enquanto o CID-11 tem 11 sintomas desatenção (IA) e 11 sintomas de hiperatividade e impulsividade de (HY/IM), mas 10 se ‘agitação’ em crianças e ‘inquietação mental’ em adultos forem combinados em um.
DIFERENÇAS NA PARTIÇÃO DAS SUBDIMENSÕES DOS SINTOMAS HIPERATIVIDADE (HY) E IMPULSIVIDADE (IM)
A terceira diferença se relaciona com edições anteriores e atuais do DSM e CID. Especificamente, se os sintomas de HY e IM devem ser considerados como dimensões separadas contrastando o DSM-IV-TR[ 5 ] com o DSM-5-TR, e contrastando o CID-10 com o CID-11.
Atualmente, no DSM-5-TR, os sintomas de HY e IM são considerados como representando uma única dimensão em relação ao limiar para diagnóstico. Isso significa que um adulto atingirá o limiar diagnóstico do domínio HY/IM independentemente de ter sintomas de HY ou IM.
O limiar de HY/IM pode ser atingido por dois adultos diferentes: um com cinco sintomas de HY e outro com dois sintomas de HY e três sintomas de IM misturados. Embora o CID-11 também agrupe HY e IM como uma única dimensão, os limiares diagnósticos não são especificados para crianças ou adultos.
Na edição anterior do DSM-IV-TR, os sintomas eram listados separadamente sob os subtítulos HY e IM. Da mesma forma, o CID-10 contemporâneo ao DSM-IV-TR também os considera separadamente, mas com “tagarelice” listada dentro do grupo IM.
Ao aplicar a estrutura do CID-10, pode-se postular que dos 10 sintomas HY/IM do CID-11, cinco sintomas são HY (‘atividade motora’, ‘sair do assento’, ‘correr’, ‘dificuldade em ficar parado’/’inquietação física’ e ‘dificuldade em não se envolver em atividade silenciosamente’), enquanto os outros cinco sintomas (‘tagarelice’, ‘improvisar’, ‘não conseguir esperar’, ‘interromper’ e ‘resposta imediata sem considerar as consequências’) são sintomas IM.
Descobertas empíricas recentes de estudos de análise fatorial fornecem suporte de que os sintomas de HY e IM devem ser agrupados separadamente, e que a “tagarelice” deve ser agrupada com IM em vez de HY, de acordo com a configuração do CID-10 [ 6 , 7 ].
DIFERENÇAS NA CLAREZA E PADRONIZAÇÃO DOS LIMIARES DIAGNÓSTICOS
Em quarto lugar, os limiares diagnósticos para a contagem de sintomas nos domínios IAM e HY/IM são explicitamente especificados no DSM-5-TR (ou seja, seis para cada domínio para crianças e cinco para cada domínio para adolescentes/adultos com 17 anos ou mais), enquanto no CID-11 não são.
Observando que os sintomas do TDAH podem variar com a idade do desenvolvimento e a gridade do TDAH, a CID-11 afirma que “vários sintomas” dos grupos IA e HY/IM precisam estar presentes. Essa abordagem é, no entanto, consistente com a abordagem geral usada pela CID-11[ 8 ], a fim de evitar cortes arbitrários relacionados às contagens e duração dos sintomas; e, como tal, termos como “vários dias”, “várias semanas” e “vários sintomas” são usados na CID-11.
A abordagem usada pelo CID-11 é considerada mais alinhada com a forma como os clínicos realmente fazem diagnósticos, permitindo mais flexibilidade no exercício do julgamento clínico e evitando requisitos algorítmicos (considerados por alguns como ‘pseudoprecisão’), como um limite prescrito de contagens de sintomas. Essa flexibilidade é uma característica inovadora no CID-11 e é mais consistente com a classificação dimensional [ 8 ].
No entanto, as diretrizes sobre como estabelecer limites não são fornecidas no CID-11. Portanto, ao usar o CID-11, o ônus é colocado em clínicos individuais para aplicar seu próprio julgamento na determinação de limites clínicos. Os problemas potenciais com essa abordagem incluem dificuldade de diagnóstico (especialmente para clínicos menos experientes) e a heterogeneidade aumentada do TDAH acima e além daquela produzida pelos critérios de diagnóstico de TDAH definidos pelo DSM-5-TR.
IMPLICAÇÕES DAS DIFERENÇAS ENTRE DSM-5/DSM-5-TR E CID-11 PARA PESQUISA E PRÁTICA CLÍNICA
Com referência aos critérios de diagnóstico de TDAH, as diferenças relacionadas ao número de critérios, aos limites para o diagnóstico de TDAH e se os grupos de sintomas HY e IM são mesclados ou agrupados separadamente têm uma série de implicações para a prática clínica e a pesquisa.
Primeiro, em relação à prática clínica, como mencionado anteriormente, os limiares para os diferentes domínios de sintomas não são especificados na CID-11, aumentando assim a probabilidade de maior heterogeneidade diagnóstica.
Uma maior padronização geralmente melhora a confiabilidade diagnóstica, mas essa abordagem algorítmica prescrita não é adotada pela CID-11 per se; em contraste, a CID-11 prefere a abordagem dimensional.
A esse respeito, sugerimos que até que uma orientação mais clara da CID-11 e sua futura revisão sejam disponibilizadas, os pesquisadores que usam a CID-11 devem estar cientes de fornecer descrições muito detalhadas das amostras (incluindo contagem de sintomas) examinadas em seus estudos. Além disso, espera-se que a CID-11 divulgue, no devido tempo, suas Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas (CDDG). Elas provelmente fornecerão uma orientação diagnóstica mais operacionalizada para clínicos e pesquisadores e, com mais de uma década de trabalho investido em seu desenvolvimento [ 8 ], serão ‘projetadas para auxiliar clínicos de saúde mental a fazer um diagnóstico confiável’. Portanto, recomendamos fortemente que os leitores acessem e estudem detalhadamente o CID-11 CDDG para obter mais informações, quando estiverem disponíveis.
Em segundo lugar, para o DSM-5/DSM-5-TR, foram levantadas questões sobre se os dois fatores propostos/implícitos (ou seja, dimensões IA e HY/IM) são o modelo estrutural ideal. Isto ocorre porque muitos estudos que compararam diferentes modelos estruturais latentes de TDAH relataram menos suporte para o modelo de dois fatores do que para os modelos de três fatores (especialmente os fatores IA, HY e IM alinhados ao CID-10 [ 3 ].
Da mesma forma, estudos recentes [ 7 , 9 ] forneceram suporte empírico para o modelo bifatorial S-1 para explicar a estrutura do fator latente do TDAH. Ou seja, o TDAH é provelmente um transtorno predominantemente impulsionado por substratos IM latentes [ 7 ], em linha com a ‘hipótese da impulsividade do traço’ [ 10 ]. Neste modelo bifatorial S-1, a ‘impulsividade’ é melhor representada por quatro itens IM do CID-10 (‘falar’, ‘deixar escapar’, ‘mal posso esperar’ e ‘interromper’) em linha com a configuração do CID-10, em vez dos três itens IM do DSM-5-TR (‘deixar escapar’, ‘mal posso esperar’ e ‘interromper’).
Uma descoberta consistente nesses estudos é que o fator HY é mal definido (carregamentos insignificantes e/ou negativos) e carece de confiabilidade (níveis de coeficiente ômega abaixo de 0,50). Portanto, HY é observável em indivíduos com TDAH, a relevância de HY para TDAH nos níveis de traços latentes é questionável.
Essas considerações têm implicações importantes de pesquisa que podem ser potencialmente comprometidas pelas definições atuais do CID-11 e do DSM-5-TR. No momento, não temos conhecimento sobre as propriedades psicométricas dos sintomas de TDAH do CID-11 e, portanto, precisamos ter cautela ao usar o CID-11 para a prática clínica relacionada ao TDAH. De fato, por esse motivo, alguns na prática clínica podem questionar a utilidade clínica atual do CID-11, até que maior clareza surja.
Em terceiro lugar, as diferenças indicam que as medidas existentes, como as escalas de classificação de TDAH baseadas no DSM-5, podem não ser apropriadas para a aliação de TDAH definida pela CID-11, e que há uma necessidade de desenvolver novas escalas de classificação de TDAH baseadas na CID-11. A ausência de escalas de classificação baseadas na CID-11 para TDAH pode ser considerada um obstáculo importante para a pesquisa e a prática clínica usando a CID-11.
No entanto, como uma solução temporária, os pesquisadores podem utilizar os critérios listados conforme definidos pela CID-11. Não obstante isso, a ausência de uma escala de classificação definida pela CID-11 validada, ou um instrumento de medição ou ferramenta de diagnóstico semiestruturada para capturar toda a gama de critérios de sintomas da CID-11, fornece oportunidades para os pesquisadores construírem medidas apropriadas com confiabilidade e validade derivadas empiricamente. Isso é importante, pois a identificação da estrutura subjacente será determinada não apenas pelos elementos clínicos, mas também pelo escopo das ferramentas que são usadas em seu reconhecimento.
A ausência de limiares para os grupos de sintomas IA e HY/IM no CID-11 significa que para os clínicos que ainda desejam usar o CID-11 para diagnóstico clínico de TDAH, o ônus é colocado sobre eles para usar suas próprias pontuações de corte para estabelecer a casuística clínica. Essa abordagem provelmente reduzirá a confiabilidade entre aliadores e teste-reteste, aumentando assim a heterogeneidade do TDAH além do que observamos atualmente quando os critérios de diagnóstico de TDAH do DSM-5 são aplicados.
Além disso, tal cenário limitaria a comparabilidade dos achados entre estudos nos quais a casuística diagnóstica é baseada no CID-11. Também é concebível que as falhas do DSM-5-TR e do CID-11 na classificação e particionamento dos sintomas HY/IM nas respectivas subdimensões HY e IM dissuadirão os pesquisadores de explorar mais a fundo a estrutura de três fatores do TDAH ( ou seja , IA, HY e IM três subdimensões), ou a modelagem bifatorial S-1 na qual diferentes padrões de particionamento dos sintomas HY e IM são aliados [ 7 ].
Outra questão relevante para a pesquisa e a prática clínica aqui são os biomarcadores. A Federação Mundial de Sociedades de Psiquiatria Biológica e a Federação Mundial de TDAH concluíram anteriormente que ainda não há um biomarcador confiável para TDAH [ 11 ]. No entanto, potenciais candidatos promissores devem ser mais explorados [ 12 , 13 ].
Quando os papéis de diferentes marcadores biológicos se tornam estabelecidos, eles podem desempenhar um papel na melhoria da precisão diagnóstica e na redução da heterogeneidade, e podem contribuir para diferenciar a validade e a utilidade do DSM-5-TR e do CID-11 com relação às suas diferenças, conforme identificadas nesta revisão.
CONCLUSÃO
Neste comentário, articulamos as diferenças nos critérios diagnósticos entre o DSM-5-TR e o CID-11 e as implicações dessas diferenças para a prática clínica e a pesquisa. As principais diferenças foram observadas na composição dos sintomas e nos limiares diagnósticos para os domínios IA e HY/IM.
As implicações clínicas e de pesquisa incluem: (1) A atual falta de escalas de classificação e ferramentas de medição para capturar o espectro completo dos itens de sintomas do CID-11; e (2) a falta de limiar diagnóstico padronizado para os domínios de sintomas IA e HY/IM, com problemas decorrentes de validade, confiabilidade e maior heterogeneidade.
Além disso, a falta de distinção entre os sintomas HY e IM contraria as descobertas empíricas recentes e limita as oportunidades futuras de explorar a modelagem de três fatores ou bifator S-1 de IA, IM e HY como componentes-che na estrutura latente do TDAH.
Para encerrar, este comentário busca fornecer aos clínicos e pesquisadores um resumo sucinto das questões, bem como insights importantes sobre as implicações clínicas e de pesquisa das recentes mudanças no DSM-5-TR e/ou CID-11.
Notas de rodapé:
Declaração de conflito de interesses: Nenhum. Wai Chen atuou como revisor do Comitê de Saúde Pública e Clínica do DSM-5 durante a revisão do DSM-5; mas essa função não gerou e não gerou nenhum conflito de interesses.
Proveniência e revisão por pares: Artigo convidado; Revisado por pares externos.
Modelo de revisão por pares: Single blind
Revisão por pares iniciada: 16 de dezembro de 2022
Primeira decisão: 20 de fevereiro de 2023
Artigo na imprensa: 18 de abril de 2023
Tipo de especialidade: Psiquiatria
País/Território de origem: Austrália
Classificação da qualidade científica do relatório de revisão por pares
Nota A (Excelente): 0
Grau B (Muito bom): B, B
Grau C (Bom): C, C
Grau D (Regular): 0
Grau E (Ruim): 0
P-Revisor: Hosak L, República Tcheca; Jiménez DR, Espanha; Wang DJ, China S-Editor: Fan JR L-Editor: A P-Editor: Chen YX
Informações do colaborador
Rapson Gomez, Escola de Ciências, Psicologia e Esporte, Federation University, Melbourne 3806, Austrália.
Wai Chen, Curtin Medical School, Curtin University, Perth 6102, Austrália. wai.chen@curtin.edu.au.
Stephen Houghton, Escola de Pós-Graduação em Educação, Universidade da Austrália Ocidental, Perth 6009, Austrália.
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