Os insurgentes invadiram o Capitólio dos Estados Unidos em 6 de janeiro, criando caos e desafiando os membros do legislativo que estam reunidos para certificar os votos eleitorais. Segundo eles, a eleição presidencial foi fraudada — uma ideia defendida por um líder poderoso e de sua confiança.
“Fraudaram a eleição”, alegou mentirosamente o presidente Donald Trump naquele dia a uma multidão formada por milhares de seus apoiadores em Washington D.C. “Não se enganem, essa eleição foi roubada de vocês, de mim e do país.”
Mas a ideia de que a eleição foi fraudada é, por definição, uma teoria da conspiração — uma explicação dada a acontecimentos que se baseia na premissa de que pessoas que detêm o poder manipulam a sociedade de forma desonesta. Na realidade, dezenas de ações judiciais com acusações de fraude eleitoral foram rejeitadas na justiça estadual e federal. O procurador-geral William Barr disse, no mês passado, que o Departamento de Justiça dos Estados Unidos não encontrou nenhuma evidência de fraude eleitoral generalizada. Até o líder da maioria no Senado, Mitch McConnell — aliado republicano de Trump durante grande parte de sua presidência — declarou recentemente que algumas das alegações de Trump sobre fraude eleitoral eram “teorias da conspiração radicais”.
Trump “utiliza como arma o raciocínio motivado”, afirma Peter Ditto, psicólogo social da Universidade da Califórnia, em Irvine. Ele “incitou um motim e transformou tendências humanas naturais em arma”.
Essas tendências humanas — de acreditar no que satisfaz nossas preconcepções, verdadeiras ou não — faziam parte de nossa vida muito antes dos arruaceiros invadirem o Capitólio. E, em meio à pandemia de covid-19, a desinformação aparentemente se tornou sem limites.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) designou o momento atual como infodêmico, quando uma infinitude de dados se mistura com mentiras, muitas vezes produzindo efeitos devastadores. Algumas pessoas incendiaram torres de telecomunicações 5G após lerem publicações nas redes sociais que alegam que a nova tecnologia poderia causar covid-19. Uma minoria preocupante negou a existência do vírus até mesmo no momento de sua morte em decorrência da covid-19.
Especialistas afirmam que a maioria das pessoas não cai tão fácil em mentiras. Mas quando a desinformação oferece explicações simples e casuais a eventos que de outra forma seriam considerados aleatórios, “ela ajuda muitos indivíduos a restaurarem a sensação de controle e equilíbrio”, conta Sander van der Linden, psicólogo social da Universidade de Cambridge.
Hoje, a desinformação constante ao nosso redor tem como pano de fundo a pandemia em curso, uma crise de desemprego, manifestações em massa contra a violência policial e a injustiça racial, e uma eleição presidencial profundamente polarizadora. Em tempos turbulentos, explicações fornecidas por teorias da conspiração e outras mentiras podem ser ainda mais atraentes — ainda que não se consiga contê-las ou a elas resistir.